A cobrança da sociedade sobre os novos prefeitos deve aumentar. Eleitos no primeiro pleito a exigir ficha limpa aos candidatos que já haviam prestado serviço ao Poder Público, eles deverão se preocupar com dois novos desafios: a profissionalização e a transparência na gestão pública. Para representantes de órgãos de controle e fiscalização no Ceará, a tendência é que, a partir de agora, com a validação da Lei da Ficha Limpa, haja uma depuração maior no sistema político que poderá, em longo prazo, reduzir as irregularidades.
A secretária de controle externo do Tribunal de Contas da União (TCU) no Ceará, Shirley Brito, acredita que as pessoas estão começando a acompanhar a atuação dos políticos e fiscalizar os gastos públicos, acreditando que, em médio prazo, haverá mudanças significativas no processo eleitoral. “Neste ano, já tivemos uma diferença enorme na demanda do cidadão e saímos mais enriquecidos do certame. Daqui a três ou quatro eleições, teremos um cenário diferenciado”, afirma.
Segundo aponta, o político que não estiver comprometido com o social dificilmente fará carreira. “O cidadão não vai se contentar só com emprego pro filho. É um caminho que não tem volta”, analisa.
Para Shirley Brito, essa percepção do eleitorado tem impulsionado uma mudança no próprio perfil do gestor público. “Você não pode mais colocar qualquer pessoa nos cargos públicos. O serviço público está se profissionalizando. O gestor precisa compreender isso. A administração ficou mais complexa e exige profissionalização”, declara.
Conforme Shirley Brito, essa mudança envolve, além da responsabilidade administrativa, o compromisso com a transparência. “Aquela história de que eu assumi agora e não tem nenhum papel na prefeitura já não cabe mais”, acrescenta.
Contribuição
No entendimento do chefe da Controladoria Geral da União (CGU) no Ceará, Luiz Fernando Menescal, a contribuição da Lei da Ficha Limpa para a administração pública ocorre em um sentido amplo. “Na medida que a gente vai ter uma depuração maior do sistema político por conta da exclusão do processo eleitoral daqueles gestores condenados, em tese, a gente teria, em médio e longo prazo, uma menor quantidade de irregularidades. Além disso, a Lei da Ficha Limpa tem o poder de dissuadir o ânimo dos políticos em praticar irregularidades”, acredita.
Para ele, a Lei da Ficha Limpa é emblemática principalmente por ser de iniciativa popular. “A sociedade brasileira está dando uma resposta a um mal crônico. Corrupção não é um problema do governo brasileiro, mas da sociedade brasileira”, considera. Luiz Fernando Menescal defende que esse tipo de iniciativa deve vir acompanhada de maior velocidade no Poder Judiciário para evitar a sensação de impunidade que ainda traz uma descrença à população.
“Acho que boa parte da sensação de impunidade decorre dessa demora. A condenação às vezes até acontece, mas é num lapso temporal tão grande em relação ao fato que a sociedade não consegue fazer a ligação”, declara. Nesse sentido, o julgamento do Mensalão, inclusive com a condenação de alguns réus, vem de certa forma dar uma resposta à cobrança da população.
Fonte: www.diariodonordeste.com.br