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Esporte

UFC em São Paulo comprova: MMA brasileiro precisa se reinventar

Queda de antigos ídolos e ausência de atletas promissores coloca em risco a popularidade das artes marciais mistas no país

O UFC em São Paulo tinha tudo para ser decepcionante. E foi. A noite de sábado que terminou com derrota massacrante de Rogério Minotouro para o americano Ryan Bader, no Ginásio do Ibirapuera, confirmou o momento preocupante do MMA brasileiro. Os ídolos envelheceram e poucos jovens aparecem como postulantes reais a cinturões. O UFC segue atraindo um público fiel – a torcida compareceu e fez sua parte na madrugada deste domingo, e a Rede Globo registrou 11 pontos de audiência na madrugada –, mas os tempos de euforia popular em relação às artes marciais mistas parecem estar indo embora junto com a força dos antigos ídolos nacionais.

A maior preocupação do MMA brasileiro na atualidade é o envelhecimento das grandes estrelas (Anderson Silva, Vitor Belfort e cia) e a ausência de promessas que efetivamente possam brigar por cinturão – Demian Maia (39 anos) e Ronaldo Jacaré (36), não exatamente garotos, são os principais postulantes do momento, além de José Aldo (30), campeão interino dos penas, que ainda não decidiu se vai ou não se aposentar. Os três, por sinal, vêm sendo pouco valorizados por Dana White e pelos novos chefes chineses, aumentando ainda mais o mau humor dos brasileiros. Recentemente, o gaúcho Giovanni Decker pediu demissão da presidência do UFC no Brasil, citando “a falta de autonomia para fazer meu trabalho bem feito, e as últimas decisões envolvendo lutadores brasileiros em vias de disputa de cinturão”.

O evento no Ibirapuera só confirmou a onda de pessimismo. Além da ausência de grandes atrações, a maioria dos brasileiros decepcionou no octógono. No card preliminar, a vitória mais empolgante foi a do carioca Johnny Eduardo, que aposentou o armênio Manny Gamburyan. Aos 38 anos, porém, Johnny tem como única pretensão na carreira continuar empregado no UFC por mais tempo possível. Luis Henrique “KLB” também brilhou com um nocaute e, aos 23 anos, pode até sonhar em chegar ao grupo dos melhores pesos-pesados, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. No card principal, Warlley Alves (25 anos) e Thales Leites (35) foram completamente dominados por atletas que, assim como eles, não estão entre os 10 mais bem ranqueados.

Por enquanto, a única esperança de renovação do país é Thomas Almeida, promessa da categoria peso-galo. Neste domingo, o paulista de 25 anos venceu sua 22ª luta na carreira despachando de forma muito convincente o americano Albert Morales com um nocaute ao seu estilo aguerrido.  Thominhas estava invicto na carreira até maio, quando perdeu sua primeira luta na carreira para o americano Cory Garbrandt. Mesmo assim, se recuperou com mais uma vitória e agora deve entrar no top 10 do peso-galo – é o 11º da categoria dominada por Dominick Cruz. “Eu não sou de falar nomes, mas agora eu quero enfrentar um top 10, um top 5 e quem sabe disputar o título”, revelou o lutador após ser declarado vitorioso no UFC São Paulo.

Mulheres – Até mesmo Claudia Gadelha, primeira colocada do ranking peso-palha feminino, decepcionou em São Paulo, apesar da vitória. Diante de uma adversaria inexpressiva, a americana Cortney Casey, a atleta potiguar de 27 anos dominou a luta, mas não conseguiu o nocaute. “Eu quero este cinturão de qualquer jeito”, disse, depois da luta. Gadelha já foi duas vezes derrotada pela campeã da categoria, a polonesa Joanna Jedrzejczyk – a última delas valendo o cinturão –, mas pode receber uma nova oportunidade, em breve.

As mulheres, por sinal, vem representando melhor o MMA brasileiro do que os homens. O único cinturão linear do país pertence a Amanda Nunes, 28 anos, a rainha do peso-galo – José Aldo é o campeão interino dos penas. Cris Cyborg, 31 anos, também vem se tornando uma sensação do UFC. Carismática e talentosa, já conseguiu dois nocautes impressionantes em lutas de peso casado, mas sofre com o fato de o UFC não ter uma categoria para o seu peso entre as mulheres.

Um dos países mais tradicionais em lutas, o Brasil tem condições de se recuperar do mau momento e produzir novos ídolos, mas precisa agir rápido. Anderson, Belfort e a família Nogueira já fizeram muito pelo esporte e devem ser para sempre reverenciados, mas é hora de virar a página e investir na base. Além disso, depois do descaso do UFC em relação a Jacaré e Aldo, os brasileiros precisam se conscientizar de que o UFC é um negócio e que não basta ser bom de briga. Para fazer sucesso, os lutadores também precisam saber se vender. Por enquanto, o horizonte segue sombrio. Ainda sem presidente no Brasil, o UFC promete realizar três eventos no país em 2017.

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