Da coluna Fábio Campos, no O POVO deste domingo (24):
Na comemoração dos 10 anos de poder, o PT deu a largada da campanha eleitoral de 2014. Como nunca antes visto nesse País, a disputa chega com grande antecedência. Bem ao seu estilo, Lula foi quem balançou a bandeira de largada. Como o mais bobinho dos políticos sabe, se a campanha nacional entrou na pauta, as disputas locais ganham a mesmíssima dinâmica.
A sucessão nacional molda as sucessões estaduais. E esse movimento se dá de forma automática. O começo das discussões acerca da Presidência da República impõe um processo correlato nos estados.
Mais ainda quando o atual gestor está no fim da linha dos dois mandatos. É onde se enquadra o Ceará.
Antecipar a campanha é sempre muito ruim para o governador de plantão. Mais ainda para um político como Cid Gomes que gosta de empurrar a discussão sucessória para o limite do limite do limite da data estipulada pela legislação.
No Ceará, já ocorreram espasmos nada desprezíveis em torno da sucessão estadual. O senador Eunício Oliveira (PMDB), em alto e bom som, foi o primeiro a dizer que pretende ser candidato a governador nas eleições de 2014. O PT se meche.
Percebam que a disputa principal no Ceará vai se dar por dentro da grande aliança que banca o governador. E isso ganha uma proporção ainda mais significativa quando se sabe que Cid não tem um nome nato e óbvio para apontar como candidato.
A dinâmica da política é incontrolável, sabe-se. Mais ainda quando o processo é antecipado com meses de antecedência. A agenda passa a não ter um dono. Atentem que o PT escolheu Fortaleza como a primeira cidade a receber o seminário que está sendo considerado a “caravana da cidadania” de Dilma Rousseff.
O evento vai acontecer dia 28 de fevereiro, uma quinta-feira, em um hotel da Beira Mar. Todos os dirigentes da aliança pró-Dilma foram convidados. Cid Gomes, entre eles. Certamente o prefeito Roberto Cláudio também. É o PSB. Luizianne Lins é presidente estadual do PT e terá lugar à mesa principal.
Percebem a delicadeza e a tensão envolvidas em um simples evento? Com a campanha antecipada, será assim. Cada ato, cada agenda, cada movimento ganha uma repercussão diferente. Cada frase proferida, cada gesto, cada constrangimento gerado merecerá leituras as mais diversas.
Com poderoso arco de alianças, reunindo siglas até antagônicas, o governo Cid Gomes (PSB) chega ao seu penúltimo ano de gestão com poucas vozes de oposição. Protagonizam o discurso mais crítico ao PSB deputados estaduais rebeldes dentro de suas legendas, grupos políticos ressentidos de derrotas nas urnas, ou vozes mais à esquerda cujo discurso, porém, ainda tem dificuldade de penetração entre a maior parte da população.
Na prática, são líderes que esbarram na falta e/ou na fragilidade de estratégias para formalizar um projeto realmente alternativo ao que vigora hoje no Ceará. O deputado estadual Heitor Férrer (PDT), por exemplo, é o primeiro nome que surge quando se fala em oposição no Ceará. Entretanto, seu partido integra a base aliada, com cargos estratégicos, e não dá o menor sinal de que deseje mudar de posição.
Mesmo que faça barulho, Heitor é voz isolada. O que afasta, em princípio, a possibilidade de se lançar projeto próprio em 2014.
Após a derrota nas eleições municipais de 2012, quando o PT foi bombardeado pelo aliado PSB, o grupo mais próximo à ex-prefeita Luizianne Lins (PT) tem assumido tom mais crítico à gestão estadual. O ex-líder do governo Cid na Assembleia, deputado Antônio Carlos (PT), hoje, defende que, mesmo sendo aliado, o PT pode trazer à tona queixas e demandas sociais que surgem. Ele é hoje o parlamentar do partido que assume postura mais crítica na Assembleia em relação à administração da qual era defensor até há poucos meses – situação que, por si só, fragiliza seu discurso.
E, quando se vislumbra o lançamento de projeto próprio em 2014, o grupo de Luizianne fica subordinado à estratégia nacional de reeleição de Dilma Rousseff (PT), que, por sua vez, espera contar com o aliado PSB em seu palanque.
Esbarra na dificuldade de discurso e na falta de lideranças o PSDB, que tem endurecido com o PSB durante as duas últimas eleições, mas não mantém o pulso firme depois dos pleitos. Se fizerem críticas mais severas, os tucanos se arriscam a condenar o próprio legado, pois acreditam que o modelo de gestão de Cid Gomes dá continuidade ao projeto iniciado por Tasso Jereissati (PSDB). Como, então, os tucanos poderiam apresentar projeto divergente?
Já o Psol, que se afirma de oposição sem titubear e defende projeto de ruptura com o modelo vigente, não conta com representantes na Assembleia Legislativa, nem na Câmara dos Deputados. Com muitas das propostas semelhantes às defendidas pelo PT dos anos 80, a sigla encontra dificuldade de se consolidar, já que o próprio PT ainda alcança capilaridade com discurso de esquerda. E, assim, não consegue preencher o vácuo da falta de oposição no Estado.
Aliado
Ao tropeçar na fragilidade de discurso, de lideranças e de estratégias, a oposição deixa caminho aberto para que um fiel aliado do PSB desponte como possível sucessor de Cid Gomes entre as opções de fora do próprio grupo do governador.
Após anos como apoiador e escudeiro do atual projeto estadual, o senador Eunício Oliveira (PMDB) manifesta interesse em “dar continuidade” ao trabalho iniciado pelo governador, embora a tendência seja Cid indicar nome de seu próprio grupo. O possível conflito de interesses do PMDB e PSB pode, então, demarcar que a maior dificuldade para o cidismo talvez esteja dentro de sua própria base aliada.