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Notícias

"Tem gente querendo fazer intriga disso"

O
governador negou incômodo com o fato de Eunício Oliveira ter procurado Heitor
Férrer, opositor do Governo

O governador Cid Gomes (Pros)
disse ontem, em visita ao O POVO, que há nos bastidores políticos uma
tentativa orquestrada de desgastar sua relação com o vice Domingos Filho
(Pros), que chegou a ser apontado como pivô da decisão de Cid de não renunciar
ao cargo. O chefe do Executivo afirma que Domingos não é carta fora do baralho,
e continua no páreo pela indicação à candidatura a governador na chapa
governista.

Algumas lideranças têm afirmado
que, a partir da recusa de Ciro Gomes (Pros) de disputar vaga no Senado, Cid só
não encarou o desafio para não ter de ceder as chaves do Palácio da Abolição a
Domingos, que ganharia força na condução do processo eleitoral.

Sobre o futuro da aliança que até
agora lhe dá sustentação política, Cid adota postura ambígua, e ao mesmo tempo
em que questiona a legitimidade de o senador Eunício Oliveira (PMDB)
reivindicar a vaga de governador na chapa, admite que o Pros poderá abrir mão
de indicar um nome ao cargo. Ele também disse acreditar no peemedebista, “até
que se prove o contrário”. Confira trechos da entrevista exclusiva.

O POVO – Tomada a decisão de permanecer no Governo, o
senhor já começou a maturar a questão de quem apoiará na sucessão do cargo?

Cid Gomes – Eu não pretendo apontar dedo,
tirar carta da manga e definir. Esses processos devem ser compartilhados.
Primeiro deve ser tratado um projeto de Ceará, discutido com os partidos, com
as forças cearenses, que pensem sobre cada uma das áreas: segurança, saúde,
educação, desenvolvimento econômico. Avaliem o que deve ser melhorado,
alterado, para na sequencia a gente pensar quais os partidos que vão fazer
parte desse projeto e que nome os partidos têm para representá-lo. O processo é
democrático. Não serei eu quem vai apontar um escolhido. Não é meu estilo.

OP – O senhor cogita, então, que outro partido venha
a indicar esse nome, que não o Pros?

CG – É natural que o maior partido
da aliança tenha preferência, de apontar o maior cargo em disputa.

OP – Nas últimas semanas, sua relação com Domingos
Filho ficou em evidência. Há informações no bastidor sobre um possível mal
estar entre os dois. Como está a relação? Ele está no páreo rumo ao Governo?

CG – Claro. Se ele desejar, é claro
que está. O Domingos é meu amigo de longas datas. Se o Ciro decidiu não ser
candidato ao Senado, o que é que tem a ver o Domingos (com o fato de Cid ter
resolvido não renunciar)? Isso aí é intriga. O Ceará é muito pequeno para a
gente saber as coisas. Tem gente querendo fazer intriga disso.

 

OP – Com que intenção?

CG – Para desgastar a relação dele
comigo. Domingos é uma liderança importante, é vice-governador, já foi
presidente da Assembleia.

OP – Quem estaria fazendo isso?

CG – Não vou apontar o dedo para
ninguém, não. Eu digo isso porque já conversei com o Domingos. Estive com ele na
quarta, quinta e sexta-feira (passadas). Não vou dar trela para isso, não…

OP – Está claro na cabeça de Domingos que há uma
tentativa de intrigá-los?

CG – Acho que está, porque foi ele
que me disse.

OP – E ele está blindado em relação a isso?

CG – Acho que está, porque foi ele
que me disse.

OP – Ciro disse que sua permanência no Governo seria
importante para evitar que o Ceará caísse nas mãos de um aventureiro? A quem
ele se referia? (Alguns interpretaram que a declaração foi um recado a Domingos)

CG – Ele está falando do futuro. Do
futuro da sucessão.

OP – O senhor se sentiu incomodado com o fato de o
senador Eunício ter procurado Heitor Férrer, um de seus opositores, para
discutir a composição de uma chapa eleitoral?

CG – Eu não… As pessoas têm minha
confiança até que provem o contrário. O Eunício me procurou recentemente
pedindo o meu apoio para ser governador. Eu não descartei a possibilidade, mas
disse que não podia assumir compromisso porque o meu partido também deseja, com
o argumento forte de que é o maior partido, que tem mais deputados, mais
prefeitos no estado. E é natural que o partido que esteja com maior
representatividade dispute o posto principal, que é o de governador. Eu sou
franco e sincero com todos que falam comigo. E parto do pressuposto de que quem
está conversando comigo é franco, leal e sincero. Até que o Eunício me diga que
está procurando adversários, eu vou acreditar que ele está disputando um espaço
dentro do nosso espaço de aliança.

OP – O senhor continua acreditando nisso?

CG – Continuo, se o que ele me diz
é isso… Ele me disse que nunca procurou o (ex-senador) Tasso Jereissati
(PSDB), que pretende ter uma aliança conosco. Se ele me disse, eu acredito. Se
ele for procurar, essa coisa vai vir a público. Essa coisa de que ele procurou
o Heitor, foi o Heitor que disse ou foi Eunício que disse?

OP – Os dois.

CG – Os dois? Os dois confirmaram?

OP – Sim, embora com versões diferentes.

CG – Então vamos ver… Todo mundo
pode conversar com todo mundo, ninguém é impedido de conversar, não. O PDT é
meu aliado, como o PMDB também é.

OP – Eunício disse só ter sentido condições de
procurar Heitor depois da conversa que teve com o senhor, na qual a proposta
que ele tinha lhe feito não havia vingado. O senhor dá o rompimento como certo?

CG – Eu não, eu não. A conversa que
eu tive com o Eunício foi franca, leal e sincera. (…) Falei que não poderia
assumir compromisso com ele por conta de outras pretensões. O maior partido
aqui é o Pros, o segundo é o PT e o terceiro é o PMDB. Que argumento você vai
usar para os outros dois? O Pros abre mão da principal posição? O PT abre mão e
vai entregar ao PMDB, que é a terceira força?

OP – O senhor disse isso a ele?

CG – Não do jeito que eu estou lhe
dizendo aqui, mas disse. E falei que, naquela data, poderia ser que tivesse
alterações e que eu voltaria a falar com ele. Como não houve alterações, não
voltei a falar com ele. (…) Vou deixar as coisas tomarem seu caminho natural.

OP – O senhor trabalha com a certeza de que não terá
uma aliança tão ampla como a que teve em outras eleições?

CG – Nunca participei de uma
eleição onde não houvesse mais candidatos do que vaga. Sempre tem mais
candidato do que vaga. Esse primeiro impasse pode ser superado no diálogo.
Objetivamente, temos quatro pretensões para três vagas, o problema é esse.
Vagas de governador, vice e senador. Aí nós temos Eunício, (deputado federal)
José Guimarães (PT), senador Inácio Arruda (PCdoB) e Pros pleiteando. Isso é
impossível? Eu acho que não. Acho que é muito razoável que a gente consiga
compor.

OP – O senhor pensa em propor que o Eunício abra mão
da candidatura ao Governo?

CG – Por que você coloca desse
jeito?

OP – Porque o senhor diz que o Pros tem legitimidade
de indicar o governador, e o PT e PCdoB falam em Senado.

CG – Não defendi isso (sobre o
Pros), eu estou me colocando como magistrado nessa aliança de muitos partidos.
E a prioridade é o projeto para o Ceará e a manutenção da aliança.

OP – O Pros abre mão de indicar alguém ao governo em
nome da manutenção do projeto?.

CG – Você acha que eu tenho outra resposta a não ser
“sim”?

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